Relatos históricos retirados do livro de Artur Carlos Vilela
(1967)
Desde fins do século XVIII, foi descoberto nas faldas (base
de uma serra ou monte) do grande tabuleiro que se denominou Bulandim, o grande
buraco que tomou o nome do lugar.
(No
relato do autor do livro, entende-se que o buraco do Bulandim não tem uma data
certa documentada de seu surgimento.)
Logo começou o murmúrio dos habitantes, cada qual dando sua
opinião sobre aquele buraco. Uns diziam que tinha sido feito por negros fugidos
para se abrigarem, outros que tinham sido os antigos indígenas que habitavam
essas plagas, outros ainda afirmavam que fora feito pelos holandeses que ali
deixaram um grande cabedal. Os mais ingênuos acreditavam que ali havia um reino
encantado.
(Entendem-se
que o Bulandim era uma comunidade bastante povoada, mas não registro de quantas
famílias residiam por lá)
Em 1855 apareceu no mesmo sítio um estrangeiro, a procura do
tal buraco e arranchou-se em casa do Sr. André, conhecido por Andrezinho e o
viajante disse que andava procurando o buraco que se achava no lugar que ele
chamava “Lagoa Seca”. Andrezinho tendo compreendido que o lugar que ele chamava
“Lagoa Seca” era o mesmo Bulandim de hoje, disse-lhe que era ali o lugar que ele
procurava.
É bom observar que 37 anos antes de Bom Conselho tornar-se
munícipio autônomo, no ano de 1892, o Bulandim ou Lagoa Seca, era um sopé
bastante habitado. Um dos moradores da localidade era conhecido por senhor
André (vulgo Andrezinho).
Pergunta-se: Quem era
o estrangeiro? Como era seu nome? Veio de qual país estrangeiro? Qual era a
familiaridade que esse estrangeiro tinha com esse morador da antiga Lagoa
Seca/Bulandim, por logo hospedar-se na casa do senhor Andrezinho? Como tinha
conseguido o mapa do “possível tesouro”?
No outro dia seguiram para o lugar procurado. O estrangeiro,
depois de verificar bem o local disse a Andrezinho que ali tinha um grande
tesouro, do qual era o dono, mas sem ordem do proprietário não pegou uma folha deste
monte.
No outro dia, muito cedo estavam ambos de viagem para a
fazenda Jocira, onde morava o proprietário, capitão Antônio Anselmo. Tinham de
passar pela povoação, hoje cidade de Bom Conselho. Ao entrarem na rua do
Corredor encontraram o alarma do povo espavorido com a epidemia de cólera que
se tinha desenvolvido.
Analisando: O ano era
1855, mas qual dia e mês que o estrangeiro e o senhor Andrezinho partiram para
ver o buraco do Bulandim? Subentende-se que somente existia uma cavidade.
Entendemos que a fazenda denominada de Jocira de propriedade do capitão Antônio
Anselmo, ficava distante do Bulandim, na região norte (região do Cinturão
Verde), por que para chegar lá tinha que atravessar Bom Conselho, que na época
era um simples povoado e que passou sufoco com a doença cólera, vitimando uma
dezena de pessoas.
Naquela noite, numa mesma rua amanheceram, doze mortos fora
os acometidos. Então o estrangeiro resolveu voltar, e chegando à casa deu a Andrezinho
um roteiro e descrição do Buraco dizendo: Toma esse papel. Se eu daqui a dois
anos não voltar é porque morri; tu vais e tiras o tesouro que será teu. E
foi-se.
Outra observação: O
estrangeiro chegou, saiu, foi embora e nunca mais voltou. O senhor Andrezinho,
morador da Lagoa Seca/Bulandim, recebeu de presente o “possível mapa” do
tesouro por ter dado hospedagem ao gringo (sem nome e sem País).
O autor do
livro Raízes, Artur Carlos Vilela, não deixa pistas com relação a esse estrangeiro
que evaporou misteriosamente. Seria tudo criação da imaginação do escritor?
Passados dois anos Andrezinho procurou o Sr. Manuel Vitorino,
que era seu amigo para irem tirar o tesouro, porém escondidos. Quando o capitão
Anselmo ia para a fazenda eles iam fazer a escavação, nada conseguindo.
Por fim, morre Manuel Vitorino, ficando o roteiro em poder
dos filhos, depois perdendo-se. O seu filho Joaquim Athanásio, ficou com
alguma recordação do roteiro e em 1909 e resolveu explorar o buraco, depois
de obter licença do novo proprietário.
Entenda: No ano de
1857, o senhor Andrezinho, procurou seu vizinho e amigo, Manuel Vitorino, para
retirarem sem nenhum outro morador do Bulandim saber, o “misterioso tesouro”,
mas que não deu certo. As terras da Lagoa Seca/Bulandim pertenciam ao capitão
Anselmo que morava na região norte, distante aproximados 10 km de onde hoje é o
centro da cidade.
É de se observar
também que as primeiras pessoas que tentaram desvendar o “tesouro” escondido do
buraco do Bulandim, foram, os amigos Andrezinho e Manoel Vitorino, que após
falecer deixou o filho, Joaquim Atanázio com a missão de localizar o ouro
escondido na propriedade do capitão Anselmo, que até então não sabia desse
esconderijo valioso.
Eles tentaram diversos dias, sem nada conseguir, até que um
dos seus companheiros lhe disse que só descobriria alguma coisa se pudesse
levar o Sr. Carlos Villela "pois era um homem com ideia suficiente para
isso”.
Em 27 de novembro de 1909, eu (Artur Carlos Vilela) me achava a braços com uma
colheita e um grande plantio de fumo, quando chegou o Sr. Atanásio e
convidou-me para fazer parte na exploração do buraco. Eu lhe respondi — Sr.
Quincas (Joaquim Atanázio), só lhe direi alguma coisa depois de examinar o
buraco, pois eu nunca vi o buraco, apenas ouço contar as fantasias do reino
encantado. Disse ele — então iremos amanhã.
No outro dia, 28 de novembro de 1909, minha mulher, que esperava dar a
luz amanheceu acometida dos primeiros sintomas de parto. Finalmente, às onze
horas, nasceu uma criança do sexo masculino, e eu segui a fim de cumprir o meu
trato. Chegando ao ponto indicado não encontrei mais o companheiro.
Passados uns 10 dias, encontramo-nos no dia 8 de dezembro de 1909
e logo entramos no buraco pela primeira vez até um certo ponto, pois a luz da vela não era
suficiente. Eu estava satisfeito com o que tinha visto, e o Sr. Quincas passou
a contar o que lembrava do roteiro.
Em síntese, a exploração do buraco do Bulandim só começou mesmo pra valer no dia 14 de dezembro de 1909, ou seja, agora no ano de 2024 vai completar 115 anos dessa exploração.
Uma nova observação:
Somente 52 anos depois de descoberto é que o buraco do Bulandim foi explorado.
Os exploradores foram, seu Andrezinho, Joaquim Atanázio (seu Quincas) e Artur
Carlos Vilela.
Na próxima reportagem, falaremos sobre o roteiro do descobrimento do "tesouro escondido".
A história é cheia de aventuras...
Aguardem!