A IGREJA QUE VALEU 12 NOVILHAS, 01 TOURO E MEIA LÉGUA DE TERRAS (Parte 02)

 

A capela de Santa Cruz, construída em 1771, foi cenário do filme Vidas Secas, baseado na obra literária de Graciliano Ramos em meados do século XIX.

Este é o altar original da capela de Nossa Senhora das Brotas que no próximo dia 30 de dezembro, fará 251 anos de sua construção, segundo documentos conseguidos durante a pesquisa do documentarista Cláudio André O Poeta.
SAIBA MAIS

O SURGIMENTO DA COMUNIDADE DE SANTA CRUZ
A sesmaria comprada por João Rocha Pires a João Pereira Vilela de Bom Conselho/PE, garantiu o início da povoação do local que antes era tido como Ribeira do Traipu. As primeiras casas eram dos filhos do segundo tenente do Exército (alferes), Rocha Pires, que juntamente com a família desbravou o início do sertão, pois havia mata fechada com pura vegetação de caatinga.

É bom lembrar que esta sesmaria estava situada entre as Vilas de Palmeira e Santana do Ipanema. Sem demorar muito tempo, com o advento das amizades do filhos de João Rocha Pires, logo outras famílias chegaram para construírem suas casas e morar e passados menos de uma década a comunidade recebeu o nome de Santa Cruz, justamente a pedido do casal João e Thomasia que eram muito devotos da Santíssima Trindade.

O DISTRITO DE SANTA CRUZ
O sítio Santa Cruz estava contido nas terras de Palmeira dos Índios, que após ser emancipado, em 1889, dividiu-se em distritos - o povoado de Santa Cruz tornou-se sede do 3º Distrito Oficial de Palmeira.

Neste período, Alagoas ainda fazia parte da Capitania Hereditária de Pernambuco e era uma das quatro Vilas, Penedo, Lagoa do Sul (Hoje Marechal Deodoro), Porto Calvo e Atalaia. Mas a sesmaria de João Rocha Pires estava dentro do perímetro da jurisdição de Penedo.

A DOAÇÃO/CONSTRUÇÃO
Quando já estava com 79 anos de idade, o alferes João Rocha Pires, resolveu fazer doação de meia-légua de terra para a Igreja Católica, mas que fosse para ser construída a capela de Nossa Senhora das Brotas.
Na terceira visita a capela, esse documentarista pode comprovar que a igreja foi construída com barro de louça, rochas e vara. A madeira de lei usada para fazer o coro da capela permanece intacta. 

Ainda estamos buscando algumas informações, tipo, quanto tempo se levou para a obra ficar pronta e o que significa a data de 1868, exposta na fachada da capela.


Coro da capela de Nossa Senhora das Brotas.


O sino original da capela de Nossa Senhora das Brotas do sítio Santa Cruz, está pendurado em uma das torres da Catedral de Diocesana de Palmeira dos Índios/AL. Tanto a imagem da santa, o sino e outras peças sagradas da referida capela foram levadas pelo padre Macedo para a cidade vizinha.

OUTROS RELATOS...
Consta em documentos e livros de outros pesquisadores, que o alferes João da Rocha Pires, faleceu no ano de 1776, cinco anos após o início da construção da capela, que tudo indica que a construção demorou pelo menos 04 anos, onde um ano depois, Rocha Pires foi o primeiro enterrado dentro da capela de Nossa Senhora das Brotas.

Debaixo do altar também estão enterrados outros descendentes, mas não há registros documentais de quantos e quem são. 

Quando ele morreu aos 84 anos de idade, deixou 04 filhos, 10 netos, 15 bisnetos e 13 trinetos.

Pouca gente não foi, provavelmente, filhos e netos, pois não havendo mais espaços no interior da capela, ao seu lado direito (parte externa da capela), começaram a ser enterrados os que iriam morrendo posteriormente, no sentido de que a família até na morte estariam unidos e continuarem sendo reverenciados. 

No lado direito e externo da capela há um cemitério antigo, com túmulos de parentes de João Rocha Pires. Esse túmulo que não tem identificação, provavelmente esteja algum dos filhos do referido alferes.

Para finalizar, sabemos que no passado, a partir do início da povoação de Santa Cruz, houve um próspero centro comercial, feiras aos domingos, reunindo moradores de toda a região do agreste e sertão de Alagoas. A comunidade pertenceu ao município de Cacimbinhas por 157 anos. Quando em 1992, Estrela de Alagoas tornou-se município, herdou essa relíquia de história, porém não é explorado. 

Já era para a capela de Nossa Senhora das Brotas ser tombada como patrimônio histórico cultural e religioso do Estrela...

Na próxima postagem, apresentaremos os descendentes do alferes português, João Rocha Pires...
Aguardem!



A IGREJA QUE VALEU 12 NOVILHAS, 01 TOURO E MEIA LÉGUA DE TERRAS (Parte 01)

No próximo dia 30 de dezembro, a capela de Nossa Senhora das Brotas irá completar 251 anos de sua construção. Este templo está localizado na comunidade de Santa Cruz, oeste de Estrela de Alagoas. Toda a história começou num cartório quando a cidade de Penedo ainda era vila e pertencia a Capitania Hereditária de Pernambuco, no século XVIII.
 
Através do projeto Poeta Viagens e Aventuras, mergulhamos numa grande pesquisa sobre a capela de Nossa Senhora das Brotas e graças a todo empenho e entre idas e vindas, conseguimos as informações precisávamos. Com estas pesquisas, após ouvir moradores e ler pelo menos cinco livros, descobrimos quem são os sepultados dentro da igreja, quem construiu, como surgiu a comunidade de Santa Cruz que no passado pertenceu ao município de Cacimbinhas. A pesquisa está somente começando...

Segundo pesquisas que fizemos, no ano de 1771, um casal bateu a porta de um cartório secular na Vila de Penedo às margens do rio São Francisco, para registrar a compra de uma porção de terras que margeava a Ribeira de Traipu, onde pretendiam residir. Esse casal era João da Rocha Pires e Thomasia de Souza, católicos fervorosos, que acreditavam que a terra comprada ao Alferes João Pereira Vilela da cidade de Bom Conselho/PE, precisava receber as bênçãos do Altíssimo.

O segundo tenente do Exército Brasileiro (alferes), João da Rocha Pires que era descendente de pais portugueses e que morou na Vila de Porto da Folha, sertão de Sergipe, chegou a Alagoas com a esposa Thomasia de Souza, com o desejo de construírem moradia nas terras compradas que pertenciam a oitava parte da Sesmaria de Burgus. É bom acrescentar que Gerônimo de Burgos de Souza Eça, foi detentor de centenas de léguas de terras e vendeu como lotes para membros da família Vilela.

Entenda:
A família Vilela ao chegar ao Brasil, vinda da cidade do Porto de Portugal, dividiu-se... Uns membros, foram para Minas Gerais em busca de ouro e couro, outros, para os estados da Bahia, Espírito Santo e Pernambuco. Portanto, o alferes João Pereira Vilela era um dos irmãos de Manoel da Cruz Vilela que comprou outras léguas de terra que surgiu o município de Bom Conselho, no vizinho estado de Pernambuco.

Anexado a capela de Nossa Senhora das Brotas, há dois cemitérios, o mais recente foi ampliado na década de 90 pelo primeiro prefeito do município de Estrela de Alagoas, Adalberon Duarte. 


Nesta minha pesquisa, descobri que até 15 de junho de 1905, a comunidade de Santa Cruz, onde está a capela ducentenária, pertenceu a Palmeira dos Índios por pelo menos 157 anos, quando o bacharel Joaquim Paulo Vieira Malta, governador da época, através da resolução nº 454, decretou e sancionou a transferência do distrito judiciário de Santa Cruz para o município de Cacimbinhas, mas quando Estrela de Alagoas tornou-se cidade, logo, Santa Cruz deixou de ser patrimônio do povo de Cacimbinhas.
Toda a família de João da Rocha Pires fazia parte do Exército Português
Com 58 anos de idade, o alferes João da Rocha Pires, nasceu no Brasil em 1692, quando seus pais oriundos de Portugal já habitavam na Vila de Porto da Folha, sertão sergipano. No ano de 1750 chegou ao sertão alagoano, mais precisamente na Ribeira do Traipu, hoje, povoado de Santa Cruz. 

As terras compradas (20 léguas quadradas - 01 légua equivale a 06 km), pertenciam a João Pereira  da Cruz Vilela (da mesma família Vilela que fundou Bom Conselho/PE). 

Pelo mapa da época, a referida comunidade, ficava entre os povoados de Palmeira dos Índios e Santana do Ipanema, hioje esse lugares são municípios autônomos.

Quando João da Rocha Pires, chegou ao baixo sertão de Alagoas, trouxe consigo a esposa Thomasia de Suza e os quatro filhos (01 homem e 03 mulheres), ambos já casados.

01. Félix Rocha de Souza, casado com Ana Maria do Rosário.
02. Vitoriana da Rocha Pires, casada com Amaro José Sampaio.
03. Barbara da Rocha Pires, casada com Feliciano da Guerra Pereira.
04. Inácia da Rocha Pires, casada com Pedro da Guerra Pereira.

Não há relatos históricos afirmando se João da Rocha Pires, neste período quando chegou a Santa Cruz, se já tinha netos... 

Foi ideia do líder familiar, João da Rocha Pires e a esposa Thomasia de Souza, que construísse a capela de Nossa Senhora das Brotas, para que aquele lugar tornasse num berço cristão para todos que nascesse na região a partir daquele momento.

A seguir, cópia do translado de sessão do patrimônio de João da Rocha Pires, registrado em Palmeira dos Índios/AL, no dia 02 de outubro de 1889 (há 133 anos).
Como eram cristãos praticantes, seguidores dos dogmas católicos, resolveram doar para a Igreja Católica, meia légua de terras (03 km), doze novilhas e um touro com a intenção de manter a capela de maneira independente e ao mesmo tempo tornar-se um centro de fé e civismo, que mensalmente reunir familiares da descendência de Rocha Pires. Quem assinou a escritura de doação foi o juiz ordinário capitão Ingácio de Barros.

SAIBA MAIS
Na época da chegada da família de João Rocha Pires a Ribeira do Traipu, pertencia a freguesia de Nossa Senhora do Ó, de Porto da Folha/SE, bispado da Vila de Penedo. 

Após ser construída, a capela de Nossa Senhora das Brotas, houve muitos casamentos, inclusive, ilustres pessoas que deram origem a outros municípios da região, como por exemplo, Manoel André, fundador de Arapiraca.


Da capela de Nossa Senhora das Brotas, temos a vista da serra do Bernardino, que também pertence ao município de Estrela de Alagoas.

Aguardem a próxima reportagem!