Fazenda Colônia em Carnaíba - PE
Fonte: Anchieta Siqueira
No século XVIII, colonos já habitavam a serra da Colônia. Na localidade, primeiro, instalaram um engenho de cana-de-açúcar que funcionava com mão de obra escrava; - segundo dizem os antigos da região - também existia um cemitério na dependência de tal Fazenda e em 1801, concluíram a construção de uma capela, dedicada a Santo Antônio.
Recorda o Sr. Antônio Querubim, que em tempos passados, quando na ocasião faziam uma reforma na igreja, encontraram escritos na parede da mesma nos quais estava cravado a referida data como se fosse a de sua construção.
A organização da fazenda seguia o modelo das demais fazendas da época colonial do Brasil. As construções erguidas deixam transparecer uma perspectiva de progresso. Porém, a escravidão que submetia os trabalhadores a condições subumanas, deixava transparecer a forma desumana pela qual o progresso era alcançado.
A capela da Colônia, na época, era a única que dispunham os habitantes da extensão territorial que fixava-se nas proximidades da extrema das freguesias de Flores e Ingazeira; “Em 1829 os batizados ainda se faziam na capela da Colonha. Era capelão o Frei José, que veio também a ser capelão da Barra.” (Pires, 2004, pág.36).
Em 21 de agosto de 1830 a Câmara municipal de Flores remetia um ofício ao governador da Província informado as aglomerações de moradores que existiam, com vinculação a Flores, dentre muitas encontra-se listada a fazenda em destaque: “Colônia: distante desta vila doze léguas, tem capela, juiz de paz e não cirurgião nem butica. (Sousa Neto, pág. 97) É desta mesma capela que são encontrados escritos de Fernando Pires afirmando que em 1830 ela encontrava-se em pleno funcionamento:
“Pelo anno de 1830 já existia a capela de Santo Antônio da Colonha. O capelão, frei Antônio José, exercia o ministério em toda essa ribeira. N’ aquella data construiu-se uma capella a São José, na fazenda, aliás, rica da Ingazeira. Foi capelão o padre Motta, o qual, depois, retirou-se para a Colonha. Morreu pelo anno de 1850.” (Pires, 2004, pág. 28).
Pois bem, esta capela primitiva, remanescente do tempo dos escravos e reis, ainda hoje se encontra erguida e, todos os anos, é celebrada a festa em honra ao santo padroeiro.
A história da Colônia é realmente muito primitiva e segundo o escritor Belarmino de Souza Neto a Colônia já foi Distrito de Flores e por lá residiu até Coronel da Guarda Nacional:
“Já em 1836, colônia era fazenda importante, havendo lá um “distrito” e um Juiz de paz, era o seu proprietário o Cap. Antônio Pereira de Morais, de 45 anos, casado, chefe de numerosa família, capitão de ordenanças, “conduta exemplaríssima,” pacífico e que já servia na vila como juiz ordinário, vereador, juiz-de-paz no seu distrito, homem, enfim, altamente considerado.
A Câmara municipal de Flores, presidida por Manuel Nunes Magalhães, naquele ano, pedira ao Governo Provincial a criação, na vila, de uma Legião da Guarda Nacional e recomendara a nomeação do Cap. Antônio Pereira de Morais para Coronel Comandante da mesma.
O governo deferiu os dois pedidos e em 29 de agosto daquele ano era ele nomeado Coronel da Legião. Por muitos anos, Colônia continuou sendo propriedade da família pereira de Morais. Em 1866, Flores tinha sua delegacia policial na sede e três subdelegacias: uma em Baixa Verde, uma em Cupeti e outra em Colônia.” (Souza Neto, pags. 182-183).
A Fazenda Colônia, durante o século XIX, foi marcada por fortes conflitos. Em 08 de agosto de 1839, no Distrito de Colônia, na dependência da Vila de Flores, o Capitão Francisco Pereira de Morais, fora vitima de uma emboscada, da qual sai baleado e foi se tratar na casa de um padre que residia naquela localidade, sendo a residência também atacada por criminosos.
Segundo belarmino de Souza neto, em 30 de agosto daquele ano foi emitido um ofício do representante da Vila de Flores para o Presidente da província, Francisco do Rego Barros:
“Participo a V. Excia que no dia 27 do corrente mês, juntou-se um grupo de cabras facinorosos (...) e cercaram a casa do Padre Antônio Luiz Bezerra Monteiro, no distrito de Colônia, em cuja casa se achava o Capitão Joaquim Francisco Pereira de Morais, tratando de cuidar-se dos graves ferimentos de um tiro que a pouco havia sofrido.
Fizeram um vivíssimo fogo para dentro da dita casa, do qual resultou morrerem dois homens que ali também se achavam e sair gravemente ferido a chumbo e bala o dito padre; e o Cap. Morais conseguiu livrar-se da catástrofe, fugitivamente para o Piancó. (...) Francisco de Nogueira Paz.”
(Souza Neto, pags. 155-156)
No final do século XIX quem residia na Fazenda Colônia e exercia o cargo de Juiz na localidade era Pedro Baptista Rufino de Almeida, casado com Balbina Pereira de Morais.
No dia 03 de janeiro de 1897, em consequência de disputas de terras, Pedro Baptista é assassinado na Praça de Afogados da Ingazeira, durante a feira livre da localidade.
Seus filhos recolhem o corpo e levam para sua residência, na Fazenda Colônia, onde o mesmo é velado e sepultado. Na noite posterior ao dia do sepultamento, indivíduos invadem o cemitério e vão realizar uma festa encima da cova do falecido, eram muitas as orgias, palavrões e gargalhadas proferidos.
Manoel Baptista de Morais, filho mais novo do falecido, tomou aquilo como uma afronta, então, muniu-se de arma e munição e foi ao cemitério, onde travou combate com os invasores, três deles foram assassinados e outros fugiram.
Começava a saga de um dos mais famosos cangaceiros nordestinos, mais conhecido por seu nome de guerra “ANTÔNIO SILVINO”. Atendendo por este vulgo percorreu três estados do Nordeste - durante duas décadas – Pernambuco, Paraíba, e Rio Grande do Norte.
Foi preso em Taquaritinga – PE, no ano de 1914, cumpriu pena na antiga casa da detenção do Recife e depois de cumprir mais da metade da pena foi perdoado pelo Presidente Getúlio e posto em liberdade. Quando liberto, andou por várias localidades, revendo os amigos, trabalhando em obras públicas, etc..
Em 1941 o “ex-cangaceiro esteve em Afogados da Ingazeira, interrogado se voltaria a residir na Colônia ele respondeu: “Nunca mais colocarei os pés naquele lugar. Veio a falecer em Campina Grande – PB, em 1944.
Na serra da Colônia também nasceu o Ten. João Bezerra em 24 de julho de 1898. Filho de Henrique Bezerra da Silva e Marcolina Maria Bezerra da Silva, ainda jovem Bezerra ingressou na policia de Alagoas onde realizou muitas façanhas, a maior de todas foi comandar as volantes no massacre de Angicos, que resultou na morte de “LAMPIÃO” e outros cangaceiros, em 1938, em Sergipe.
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