Renda é insuficiente para 7 em cada 10 famílias chegarem ao fim do mês



Os rendimentos recebidos por 72% das famílias brasileiras são insuficientes para arcar com as despesas mensais, de acordo com informações divulgadas nesta quinta-feira (18), pela POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

Conforme o estudo referente aos anos de 2018 e 2019, 14,1% vivem em famílias que relataram muita dificuldade para sobreviver com a renda recebida e 58,3% e disseram ter dificuldade. Por outro lado, 26,5% atravessam o mês com facilidade e somente 1,1% tem muita facilidade. 

De acordo com o IBGE, a insuficiência mencionada envolve o poder de arcar com bens essenciais para a sobrevivência, tais com alimentação e habitação, ou para cesta de itens não essenciais mais desejados, como itens de lazer. 

Segundo a pesquisa, os 40% com menores rendimentos mensais relataram mais insatisfação com a renda do que os 10% com maiores ganhos. "Para o grupo de menor rendimento da distribuição, o baixo grau de satisfação com a renda familiar pode indicar que há necessidades básicas insatisfeitas, como alimentação e habitação adequada", avalia a POF.


Individualismo ou solidariedade (por Evaldo D' Assumpção)

 


O individualismo (Houaiss: atitude de quem vive exclusivamente para si, demonstra pouca ou nenhuma solidariedade) é uma condição que vem merecendo estudos e conceituações desde a Idade Média, quando o humano passou a ser visto como parte não destacável do conjunto social.

Santo Agostinho (430 dC), Averróis (1198), Rousseau (1778), Sartre (1980) e tantos outros pensadores debruçaram sobre esse tema, abordando-o sob óticas diversas.

Portanto, não vou retornar às considerações filosóficas sobre o tema, mas somente fazer algumas reflexões atuais sobre o mesmo, especialmente em confronto com seu oposto, que é a solidariedade.

Já mergulhado no século XXI, o humano se vê, cada vez mais, impregnado de comportamentos individualistas. Alegando medo da violência urbana, ou simplesmente sob o disfarce sedutor das redes sociais que simulam uma enorme integração das pessoas, elas estão, cada vez mais, distantes umas das outras.

Mesmo bem próximo posicionados fisicamente, conversam entre si através de aparelhos eletrônicos, que lhes proporcionam certas comodidades. Entre elas, a possibilidade de esconder o rosto e suas mímicas tão reveladoras dos verdadeiros sentimentos para com o outro, assim como a oportunidade de cortar as conexões quando isso lhes interessar, encerrando a comunicação sem precisar dizer adeus, sequer se justificar.

Afinal, o “sistema”, que sempre é responsabilizado pelos problemas eletrônicos, torna-se o único responsável pela oportuna desconexão, diante de alguma discussão de temática desagradável.

Criado e educado num ambiente de total solidariedade, desde a minha juventude sempre procurei ajudar às pessoas, especialmente idosos, senhoras e necessitados de cuidados especiais.

E o fazia, como ainda o faço, com a maior naturalidade, gratuidade e satisfação.  Talvez por isso incomoda-me ver jovens sentados em poltronas reservadas às categorias especiais, fazendo-se observador da paisagem ou sonolento passageiro, para não enxergar o idoso, a grávida, o deficiente, aos quais é destinado o banco em que estão aboletados sem qualquer pudor.

Tal situação se repete nas filas dos bancos, em locais de atendimento ao público e em tantos outros lugares, sem que robustos, saudáveis e jovens cidadãos sejam capazes de se deslocar de onde estão indevidamente, para ceder o lugar para quem ele está reservado.

Em todas essas situações, predomina o individualismo, maior inimigo da solidariedade, levando as pessoas a se imaginarem como únicas no mundo, portanto sem qualquer motivo ou obrigação de contemplar, amparar e se compadecer do próximo que está ao seu lado. Não é sem razão que o Individualismo e a solidão andam juntos, constituindo causa bastante frequente de suicídios.

Em locais onde grupos maiores devem passar para atingir algum lugar, novamente os mais fragilizados são relegados às últimas posições, pois só depois que a turbamulta, semisselvagem, já estiver aboletada nos lugares disputados pela força física, terão alguma oportunidade para usufruir de alguma condição de segurança e conforto que porventura permaneceu vacante.

 

Mas existem outras tão ou mais graves manifestações da rudeza individualista. Refiro-me à prestação de serviços, desde o atendimento em instituições públicas e privadas, como nas áreas que podemos chamar de técnicas.

Na primeira, é revoltante assistir pessoas cuja função é essencialmente a de atender aos que buscam informações ou assistência para alguma demanda, ignorarem totalmente quem se aproxima daquele balcão ou guichê.

Seja por desinteresse individualista, seja porque o(a) atendente está em animado bate-papo com amigos, aproveitando a inexistência de controle de suas atividades. Coisa bastante comum em consultórios médicos, em postos de saúde, serviços de segurança, e mesmo em diferentes empresas.

Revoltante também são os prestadores de serviço, que com seu individualismo desprezam àqueles que, em última análise são os que lhes proporcionam salários e sustento.

Tomo, como exemplo, recente viajem que fizemos, na qual duas malas que levávamos, tiveram suas alças totalmente arrebentadas no percurso do hotel ao desembarque no aeroporto, exigindo substituição completa do sistema.

Observando como alguns funcionários do hotel, bem como os encarregados de receber e colocar as malas nas esteiras do aeroporto, tratavam as bagagens, compreende-se porque tantos estragos ocorrem nas mesmas.

Sei que este é um trabalho pesado, contudo se aquelas pessoas tivessem mais solidariedade, certamente não agrediriam esses objetos, pois saberiam que eles transportam bens e sonhos de viajantes, além de ser propriedade de terceiros, que pagam caro para ter um serviço seguro.

E se quisermos ir mais longe, também são os que indiretamente pagam os salários dos que depredam seus pertences.

E para não nos estendermos em demasia, lembramos que é no trânsito, das grandes e pequenas cidades, onde o individualismo se faz mais agudo. Cada pessoa dirige, estaciona e utiliza seus veículos, como se estivesse sozinho na cidade.

Pouquíssimos são capazes de, ao estacionar seus veículos, terem o cuidado de verificar se não estão bloqueando duas vagas, pois apenas se preocupam em deixar para si amplo espaço de manobra. Os demais, que se danem....

Se pretendemos viver em ambientes mais saudáveis, mais tranquilos e seguros, certamente precisamos substituir o individualismo pela solidariedade.


*Evaldo D' Assumpção é médico e escritor

Feira Agro Pedagógica de Garanhuns

Nós, Professores de Práticas Agrícolas, juntamente com os Estudantes da Educação de Jovens e Adultos Destinada às Populações do ...