Desenvolvido por pesquisadores da China Medical University, de Taiwan, um estudo publicado pela American Journal of Cancer Research em dezembro sugere que o ácido tânico, muito presente no vinho, pode ajudar a reduzir a infecção por Covid-19. A conclusão foi de que o composto tem funções inibidoras duplas de bloqueio de serina proteases virais e celulares críticas para a infecção viral.
A pesquisa verificou a capacidade de seis compostos naturais de inibir a atividade enzimática do vírus Sars-CoV-2, causador do novo coronavírus, e identificou que o tanino pode diminuir em até 90% essa atividade, controlando, assim, sua carga viral.
Mesmo assim, não é possível dizer que tomar vinho ajuda a combater a doença – o estudo ainda não é conclusivo. Verificado que o ácido tânico pode ter efeito sobre o vírus, o próximo passo é descobrir se alimentos com muito tanino, como a uva, o caqui e a romã, de fato podem ser usados no combate à Covid-19. No vinho tinto, os taninos são os principais componentes que afetam a riqueza da textura da bebida.
Além do ácido tânico, foram feitos experimentos com catequina, kaempferol, quercetina, proantocianidina e resveratrol, todas substâncias comprovadamente ativas na supressão da infecções por outros tipos de coronavírus identificados antes da pandemia atual. Dentre os compostos, apenas o tanino demonstrou resposta significativa especificamente para o Sars-CoV-2.
Em abril de 2020, uma nota divulgada pela Federação Espanhola de Enologia provocou polêmica. No texto, a entidade afirmava que “o consumo moderado de vinho, responsável, pode contribuir para uma melhor higiene da cavidade bucal e da faringe, esta última uma zona que abriga os vírus”.
A federação também afirmou que não havia risco de contaminação da bebida por Covid-19, uma vez que “a sobrevivência do vírus no vinho parece impossível”. O comunicado, porém, gerou notícias falsas que apontavam que o vinho tinto combatia o coronavírus, o que ainda não tem comprovação.
O presidente da Associação Brasileira de Enologia, André Gasperin, destaca que o impacto positivo do consumo moderado do vinho no combate a doenças é um tema já recorrente há mais de 20 anos.
Gasperin alerta que, “como tudo na vida”, o excesso é prejudicial – inclusive entre bebidas alcoólicas. O significado de “consumo moderado” varia e depende, por exemplo, do peso da pessoa, segundo o especialista. Em média, aconselha-se a ingestão de uma taça por dia.
Ainda é cedo
A biomédica e sommelier Caroline Dani, que leciona como professora convidada no Programa de Pós Graduação em Farmacologia e Terapêutica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), destaca que este trabalho é um “insight” para uma futura pesquisa experimental ou clínica.
“É uma pesquisa in vitro, ou seja, pegaram o vírus em laboratório e colocaram em contato com esses polifenóis isolados para verificar se eles impedem a entrada do vírus na célula. No futuro, é preciso que haja um estudo em seres humanos, para verificar se esta implicação viral pode amenizar sintomas ou infecção”, pontua.
A profissional pontua que ainda há poucos estudos ligando diretamente o consumo de vinho ou suco de uva à infecção por coronavírus, mas que muitas pesquisas apontam o benefício dos fenóis, que conferem a cor roxa à uva, para a regularização da microbiota intestinal, que regulariza o sistema imune. “Ou seja, ficamos mais fortes para combater os vírus”, explica.