15 de agosto de 2014

Marina Silva e sua hora

Por FERNANDO DE BARROS E SILVA
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arina Silva jamais esteve tão próxima da Presidência. No mundinho da política esse sentimento se espalhou por toda parte nas últimas 48 horas, em graus variados, entre adeptos e adversários da possível candidata.

Sim, Eduardo Campos ainda não foi enterrado; sim, Marina não assumirá a candidatura antes do funeral; sim, o PSB, partido que a hospeda, é um saco de gatos magros sem nenhuma liderança forte e ainda não decidiu oficialmente que rumo tomar.
Ninguém mais, no entanto, nem no PT nem no PSDB, cogita seriamente a hipótese de ver Marina fora da disputa. A carta do irmão de Campos reiterando a vontade da família de que a vice substitua o candidato morto praticamente encerra a questão.
A repórter Daniela Pinheiro, da piauí, tem a informação de que Marina quer Renata Campos, a viúva, como candidata a vice-presidente. Considera que ela, auditora do Tribunal de Contas de Pernambuco, gosta de política e entende de administração pública. Sua candidatura seria também uma maneira de homenagear o marido e manter viva a imagem da família na própria chapa presidencial. Seria, sobretudo, um tremendo lance de marketing.
As resistências no PSB a Marina, tão repisadas nos bastidores da pequena política nas últimas horas, tendem a se diluir diante da perspectiva, agora real, de chegar ao comando do país. Ou seja, até em nome do oportunismo político os velhos socialistas brasileiros caminham para os braços da líder ambientalista, ainda que alguns deles tenham horror a ela.
Sem Marina, Dilma muito provavelmente venceria a eleição no primeiro turno. Aécio Neves, por sua vez, vive uma situação paradoxal: precisa de Marina no páreo para manter viva a expectativa de que haja segundo turno; ao mesmo tempo, corre o risco - a essa altura muito grande - de ser ultrapassado pela representante da terceira via e ficar fora do palco da grande final.
O histórico das candidaturas sugere isso. Marina figurou pela última vez numa pesquisa do Datafolha como possível candidata do PSB em abril deste ano (só em maio o partido viria ratificar o nome de Campos na cabeça da chapa). Ela tinha, então, 27% das intenções de voto (marca que Aécio jamais alcançou). Dilma estava com 39% (praticamente no mesmo patamar em que se encontra hoje). Aécio somava 16%.
Na próxima segunda-feira, a Folha divulga o resultado de uma nova pesquisa com Marina de volta à cédula. A apreensão entre os petistas é imensa. “Sacanagem fazer a pesquisa nesse momento”, me disse um deles ontem à noite. “Ninguém da elite, em sã consciência, a quer como presidente. Querem usá-la para manter Aécio vivo, mas é uma manobra arriscada”, acrescentou.
Na avaliação desse petista, Marina será ungida candidata assim que o caixão de Campos descer à terra. Haverá, num primeiro momento, uma pantomima para encenar a unidade do partido. Os problemas e as brigas virão logo nos dias seguintes: quem vai mandar na campanha? Qual será o discurso da candidata? Como se comportará diante das alianças regionais com petistas e tucanos feitas por Campos à sua revelia?
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uita gente parece ter descoberto que Eduardo Campos era seu candidato agora que ele morreu. Boa parte disso se deve às circunstâncias trágicas de seu fim e à comoção que tomou conta do país. Mas, além disso, parece que a morte de Campos trouxe à tona o desejo latente de mudança que fermenta há meses de forma difusa na sociedade. Até então nenhum candidato - nem Aécio nem Campos - tinha sido capaz de galvanizar esse sentimento de insatisfação, que não é necessariamente contra o governo (embora também o seja), mas, também, contra o sistema político. A deterioração do quadro econômico, embora lenta, só tende a engrossar o coro dos descontentes.

Marina parece ser o personagem ideal para o momento. Basta lembrar que, ao contrário da quase totalidade dos políticos, ela se beneficiou das revoltas de junho de 2013. No início daquele mês, quando o movimento ainda era gestado, Marina aparecia no Datafolha com 16% das intenções de voto; Dilma tinha 51%. Dois meses depois, em agosto, Marina tinha saltado para 26%, enquanto Dilma caía para 35%. A virtual candidata entrava em sintonia com o recado das ruas.
Renovação da política e aversão à política se confundem na figura de Marina. Sua fala a todo instante descamba para o registro messiânico, ao mesmo tempo em que ela preserva sua postura ponderada e dá sempre a impressão de ser uma pessoa extremamente racional. Há algo de genuinamente monástico em sua figura que contrasta com o bordel da política brasileira. Como ela vai governar, se chegar lá, talvez nem o Senhor saiba explicar.
Em 2010, Marina era uma candidata mambembe, com pouco tempo de TV e quase nenhuma estrutura partidária. Obteve quase 20 milhões de votos, surpreendendo a todos. Dois anos depois, nas eleições municipais, pressionada a sair candidata para aproveitar o cacife eleitoral acumulado, se recusou a fazê-lo. Foi além, retirando-se da disputa sem apoiar ninguém. Parecia um fim.
Quando eclodiram as revoltas de junho o nome de Marina andava esquecido. Praticamente ninguém a mencionava como peça importante do xadrez da sucessão. Em poucas semanas, ela ressuscitou nas ruas, quase à revelia de si mesma.
Logo adiante, voltou a afundar quando a Justiça Eleitoral negou o registro da sua Rede. A mão pesada do PT atuou para inviabilizar a provável candidatura presidencial da ex-ministra de Lula, sabemos disso. Mas o episódio também deixava patente a inabilidade (ou incompetência) de Marina para lidar com as contingências do mundo prático. Fora incapaz, apesar de todo o respaldo popular, de obter assinaturas ao longo de meses para criar seu partido. Isso enquanto outras legendas muito menos representativas ou francamente negocistas recebiam sua certidão de nascimento e ingressavam no circo da democracia institucional.
Em menos de 48 horas, no entanto, Marina virou o jogo novamente, aliando-se a Eduardo Campos, no que ficou conhecido como o "casamento do ano”.
Nos últimos meses, muita gente na cúpula do PSB acusava Marina de jogar apenas para si mesma e fazer pouco esforço pela candidatura de Campos. A família de Eduardo, porém, a tinha e a tem em alta consideração. Seja como for, o fato é que Marina ainda não havia transferido sua popularidade ao ex-governador de Pernambuco. Parecia, mais uma vez, devolvida à condição de coadjuvante numa chapa com algum potencial de crescimento, mas na qual mais ninguém apostava suas fichas. Isso tudo até a manhã dessa quarta-feira, dia 13 de agosto.
A campanha eleitoral está praticamente recomeçando, a 50 dias do primeiro turno, sob forte componente emocional. A tragédia de Campos o transforma num mártir. Marina Silva, por sua vez, tem certeza de que é uma predestinada. Como milhões de pessoas, crê nos desígnios de Deus. Só saberemos o final do filme em outubro. Mas para quem acredita em destino este é um enredo e tanto.
FONTE: 

FAB diz que gravação da caixa-preta de jato não era do voo de Campos

A Força Aérea Brasileira (FAB), responsável pela investigação do acidente aéreo que causou a morte do presidenciável do PSB, Eduardo Campos, informou nesta sexta-feira (15) que já foram extraídas e analisadas por quatro técnicos do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) as duas horas de áudio da caixa-preta do jato que conduzia o ex-governador pernambucano para o litoral paulista. Segundo a FAB, a gravação da caixa-preta do avião com prefixo PR-AFA não é do voo de Campos.
Com a queda do avião, na última quarta-feira (13), morreram, além do candidato do PSB, quatro assessores de campanha e os dois pilotos do jato. Confome o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a liberação dos corpos pelo Instituto Médico Legal (IML) deve ocorrer neste sábado (16). Em nota, a Força Aérea afirmou que, até o momento, não é possível determinar a data dos diálogos registrados na caixa-preta encontrada em Santos, em razão de o equipamento não arquivar esse tipo de informação.
“As razões pelas quais o áudio obtido não corresponde ao voo serão apuradas durante o processo de investigação”, advertiu o comunicado da FAB.
Além da caixa-preta da aeronave, a Força Aérea disse que investigará alguns fatores relacionados aos pilotos do jato em que estava Eduardo Campos, como se eles haviam voado por mais horas seguidas do que a lei permite, documentação, exames recentes que foram apresentados, entre outros. Além disso, durante a Investigação de Acidente Aéreo serão ouvidos familiares dos pilotos para apurar se os profissionais passavam por problemas pessoais.
A análise da caixa-preta da aeronave começou nesta quinta, após o equipamento ser levado de Santos para Brasília. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão vinculado à FAB, apura as causas do acidente.