Entidades
ligadas à defesa da liberdade de imprensa protestaram nesta
terça-feira, 3, contra a decisão do Brasil de rejeitar uma resolução das
Nações Unidas destinada a dar mais segurança aos profissionais de
imprensa em todo o mundo. "Estamos consternados por ver que uma
oportunidade histórica para tomar medidas concretas nessa área tenha
sido frustrada", disse nos EUA o diretor do Comitê de Proteção aos
Jornalistas, Guillén Kaiser.
Veja também: Relatório acusa abusos contra imprensa no País.
Além
do CPJ, também a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(Abraji) e o International News Safety Institute (Insi) disseram-se
"decepcionados" ao saber que o Brasil, ao lado de outros quatro países -
Cuba, Venezuela, Índia e Paquistão - derrubou numa reunião da Unesco em
Paris, no final de março, o texto básico de um novo Plano de Ação da
ONU sobre Segurança dos Jornalistas. O assunto, e com ele um amplo
pacote de garantias a jornalistas em todo o mundo, ficam adiados por
pelo menos um ano - o comitê encarregado só se reunirá de novo em 2013.
Só de um ano para cá morreram no Brasil cinco jornalistas - e 21 desde
1992.
Kaiser,
do CPJ, definiu como "desconcertante" o fato de a decisão contra o
plano ter partido justamente de um país que divide com os Estados Unidos
o comando da Parceria Governo Aberto, que reúne mais de 80 nações na
defesa da transparência nos atos de governo. Para Marcelo Moreira,
diretor do International News Safety Institute (Insi), a decisão
brasileira "é negativa, porque impede a criação de projetos que possam
investir em programas antiviolência" no País.
"Procedimentos".
Em sua defesa, o Itamaraty afirmou que não é contra o plano mas o
rejeitava devido a procedimentos irregulares. Primeiro, não aceitava
votar sem ser ouvido e nem aprovar um texto que já chegou pronto à
assembleia. Além disso, e contrariando a maior parte das estatísticas
conhecidas, os diplomatas brasileiros alegam que "a grande maioria dos
casos (de morte de jornalistas) verificados no Brasil não guarda relação
direta com o exercício da atividade". Em nota, a Abraji "lamenta a
decisão (...) porque entende que as supostas imprecisões do documento
são menores diante de sua importância e sua oportunidade". O plano,
chancelado por dezenas de países, "daria relevância" ao tema na
sociedade e "seria mais um estímulo para a responsabilização e punição
dos assassinos", diz a entidade.