A professora, jornalista e poetisa, Cecilia Meireles, que foi criada pela vó, buscou em seu intimo força para encarar os desafios do di-a-dia no Rio de Janeiro. Na alma de cada poeta, há uma incessante vontade de expressar seus anseios. O que mais incomoda num poeta, é saber que a leitura é desprezada por pessoas que além de ignorá-la, desejam substimar a inteligência de outros. Aos 63 anos de idade, Cecília faleceu, porém deixou inúmeras obras que traduzem o sentimento de uma pessoa que aprendeu desde cedo que a vida com seus desafios nos transforma para o pior ou o melhor. No poema a seguir sentirás isso da nobre escritora carioca.
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
CECILIA MEIRELES