1 de dezembro de 2022

Lendo Guimarães Rosa - As pessoas não morrem, ficam encantadas

A leitura fascina, liberta e inspira... Já viveu essa experiência de ler no meio da caatinga, numa pausa durante uma trilha ecológica? Isso vivenciei quando subia a serra da Castanha em Flores, sertão do Pajeú.

Comecei o primeiro dia de dezembro, lendo o poeta mineiro, João Guimarães Rosa, nascido em Cordisburgo/MG, no dia 27 de junho de 1908. No ano de 1967, 59 anos passados, no seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, três dias antes de morrer, curiosamente, suas palavras destacaram o tema da morte:

Eis o texto:
Mas - o que é um pormenor de ausência. Faz diferença? “Choras os que não devias chorar. O homem desperto nem pelos mortos nem pelos vivos se enluta". A gente morre é para provar que viveu. Só o epitáfio é fórmula lapidar. (...) Alegremo-nos, suspensas ingentes lâmpadas. E: “Sobe a luz sobre o justo e dá-se ao teso coração alegria!” - desfere então o salmo. As pessoas não morrem, ficam encantadas.


Guimarães Rosa foi um dos principais representantes do regionalismo brasileiro, característica da terceira fase do modernismo. 
Com uma linguagem fiel à popular, o escritor conseguiu inovar a literatura. Como atuou como médico e diplomata, Rosa começou a publicar seus textos mais tarde, apenas com 38 anos.

No seu mais famoso livro, "Grande Sertão: Veredas", tem uma das mais belas narrativas que retrata nosso cotidiano, quando achamos que não devemos seguir em frente diante dos "solavancos" que a vida nos apresenta.

Leia-se o texto a seguir


"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
O que Deus quer é ver a gente
aprendendo a ser capaz
de ficar alegre a mais,
no meio da alegria,
e inda mais alegre
ainda no meio da tristeza!
A vida inventa!
A gente principia as coisas,
no não saber por que,
e desde aí perde o poder de continuação
porque a vida é mutirão de todos,
por todos remexida e temperada.

O mais importante e bonito, do mundo, é isto:
que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando.

Afinam ou desafinam. Verdade maior.
Viver é muito perigoso; e não é não.
Nem sei explicar estas coisas.
Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor".

Rosa foi um estudioso da cultura popular brasileira. Sua obra que merece maior destaque e por ter sido a mais premiada, é “Grande Sertão: Veredas”, publicada em 1956 e traduzida para diversas línguas.

Sobre seus escritos, o próprio autor afirma:

Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens.

Em síntese, ler faz um bem danado... 

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