20 de fevereiro de 2022

Dez minutos de caminhada por dia podem evitar 111 mil mortes ao ano, mostra estudo

Visitando a Pedra do Céu em Olho d'Água das Flores/AL

Se quase todo mundo começasse a caminhar 10 minutos a mais por dia, poderíamos, coletivamente, evitar mais de 111 mil mortes todos os anos, segundo um novo estudo sobre movimento e mortalidade. 

Publicado esta semana na revista científica JAMA Internal Medicine, o estudo usou dados sobre atividade física e taxas de mortalidade de milhares de adultos americanos para estimar quantas mortes a cada ano poderiam ser evitadas se todos se exercitassem mais. 

Os resultados indicam que apenas um pouco de atividade física extra poderia evitar centenas de milhares de mortes prematuras nos próximos anos.


A ciência já tem muitas evidências de que o quanto nos exercitamos influencia em quanto tempo vivemos. Em um estudo de 2019, publicado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), mais de 8% de todas as mortes nos Estados Unidos foram atribuídas a “níveis inadequados de atividade”. 

Um estudo britânico de 2015 também descobriu que homens e mulheres que se exercitavam por pelo menos 150 minutos por semana — a recomendação padrão no Reino Unido, Europa e Estados Unidos — reduziram o risco de morte prematura em pelo menos 25% em comparação com pessoas que se exercitavam menos. 

Mais preocupante, um exame de 2020 dos estilos de vida e riscos de morte de cerca de 44 mil adultos nos Estados Unidos e na Europa concluiu que os homens e mulheres mais sedentários do estudo tinham até 260% mais chances de morte prematura comparados com as pessoas mais ativas, que se exercitavam por pelo menos 30 minutos na maioria dos dias.

Mas grande parte dessas pesquisas anteriores se baseou nas memórias, muitas vezes não confiáveis, das pessoas sobre seus hábitos esportivos e de descanso. Além disso, muitos dos estudos que investigaram os impactos mais amplos e populacionais do exercício na longevidade tendiam a usar diretrizes formais de exercício como seu objetivo. 

Nesses estudos, os pesquisadores modelaram o que aconteceria se todos começassem a se exercitar por pelo menos 150 minutos por semana, uma meta ambiciosa e talvez inatingível para muitas pessoas que antes se exercitavam raramente.

No novo estudo, pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer e do CDC, ambos dos EUA, decidiram, em vez disso, explorar o que poderia acontecer com as taxas de mortalidade se as pessoas começassem a se movimentar mais, mesmo que não atendessem necessariamente às recomendações formais. 

Mas, primeiro, os pesquisadores precisavam estabelecer uma linha de base de quantas mortes podem estar relacionadas à escassez de movimento. Para isso, eles começaram a coletar dados da Pesquisa Nacional de Exames de Saúde e Nutrição (NHANES), que periodicamente pergunta a uma amostra representativa da população americana sobre suas vidas e saúde.

A partir disso, os pesquisadores extraíram informações de 4.840 participantes, homens e mulheres, de diferentes etnias e com idades entre 40 e 85 anos. Todos participaram da pesquisa entre 2003 e 2006 e usaram um monitor de atividade por uma semana. 

Com base nesses dados, os pesquisadores agruparam as pessoas de acordo com quantos minutos andaram ou se moveram na maioria dos dias. Eles também verificaram os nomes das pessoas em um registro nacional de óbitos para estabelecer os riscos de mortalidade para os vários níveis de atividade.

Usando esses resultados, eles começaram a criar uma série de hipóteses estatísticas, como: supondo que todos que são capazes de se exercitar começassem a fazê-lo moderadamente por 10 minutos extras por dia, quantas mortes podem não acontecer?

Os pesquisadores fizeram ajustes para contabilizar estatisticamente aquelas pessoas que eram muito frágeis ou incapazes de andar ou se movimentar facilmente. Eles também consideraram idade, educação, tabagismo, dieta, índice de massa corporal e outros fatores de saúde em seus cálculos. 

Em seguida, executaram o mesmo cenário estatístico com todos se exercitando por 20 minutos extras por dia e, finalmente, por 30 minutos extras e verificaram os resultados da mortalidade.

Mais tempo de vida

Eles descobriram que algumas pessoas viveriam mais em qualquer um desses cenários. De acordo com os resultados, se cada adulto saudável caminhasse rapidamente ou se exercitasse por mais 10 minutos extras diariamente, poderiam ser evitadas 111.174 mortes anualmente em todo os Estados Unidos — ou cerca de 7% de todas as mortes em um ano típico.

Quando eles dobraram o tempo de exercício imaginado para 20 minutos extras por dia, o número de mortes potencialmente evitadas subiu para 209.459. Triplicar o exercício para 30 minutos extras por dia evitou 272.297 mortes, ou quase 17% dos totais anuais típicos. (Os dados foram coletados antes da pandemia, que distorceu os números de mortalidade.)

Esses números podem parecer abstratos, mas, na prática, essas centenas de milhares de mortes evitadas podem se tornar profundamente reais. Eles podem significar evitar a morte precoce de um cônjuge, pai, amigo, filho adulto, colega de trabalho ou, claro, de nós mesmos, disse Pedro Saint-Maurice, epidemiologista do Instituto Nacional do Câncer, que liderou o novo estudo.

— Há uma mensagem nestes dados para as entidades de saúde pública — afirmou.

Portanto, levante-se e caminhe ou pratique algum tipo de atividade física moderada por 10 minutos extras hoje. Convide seus amigos, colegas e pais idosos a fazer o mesmo.

— Neste contexto, um pouco de atividade física adicional pode ter um impacto enorme — disse Saint-Maurice.

Por O GLOBO

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