O "REINADO" DO CORONEL AUGUSTO (por Carlos Artur Vilela)

Ermida de Santa Terezinha do menino Jesus, Bom Conselho/PE
Foto: Cláudio André O Poeta


O "REINADO" DO CORONEL AUGUSTO

Augusto Martiniano Soares Villela, era neto de Matias da Costa Villela: seu pai era o senhor Abreu do rio S. Francisco, que desposou uma filha do “Comandante”. Estudou no seminário de Recife, pois era o sonho de seus pais fazê-lo padre. 

Mas, o jovem seminarista apaixonou-se por sua prima, Galeana Villela, também neta de Matias da Costa Villela, e já no 4.° ano abandonou os estudos para casar-se.

Toda família importante da época tinha um membro Padre, mas os Papacaceiros não conseguiram formar um sacerdote pois sempre acontecia algo contrário.

Os estudos, naquele longínquo sertão limitavam-se geralmente a elementares noções de linguagem, aritmética e conhecimentos gerais, ministrados por um professor contratado pelas famílias abastadas que reunia a criançada na casa-grande para as aulas e onde não faltavam a palmatória e o caroço de milho para menino que não soubesse a tabuada.

TÍTULOS COMPRADOS

Os “coronéis”, “majores”, “alferes”, etc. compravam essas patentes: requeriam ao Imperador e as recebiam mediante o pagamento de uma taxa, naturalmente mais elevada quanto mais alta a patente. E em dias de festa apresentavam-se garbosamente fardados como oficiais da Guarda Nacional.

Não só para a família, mas para os habitantes da vila, como dissemos tinham instrução elementar, era o coronel Augusto, um doutor, homem de letras, e seus parentes e amigos sempre procuravam ouvir sua opinião sobre todos os problemas e assuntos. 

A EPIDEMIA DE CÓLERA EM BOM CONSELHO

E assim, como Luiz Carlos Vilela, houvesse falecido na epidemia de cólera que por volta de 1853 assolou Bom Conselho, e Antônio Anselmo estivesse muito idoso, tornou-se o coronel Augusto o chefe patriarcal e o líder político da região. 

Eleito prefeito e terminado o seu período, fez continuando no poder, pois com seu prestígio, fazia eleger homens da sua confiança, que lhe obedeciam cegamente. Ia regularmente a Recife, sendo que a viagem agora não era perigosa como no tempo do “Comandante” porque já havia trem ligando Palmares h capital Pernambucana.

Homem sério, calado, resolvendo todos os assuntos com a maior calma, tinha o coronel Augusto um irmão a quem nomeou delegado, cujo, temperamento era exatamente oposto ao seu: chamava-se Gra-cindo, e era alegre, brincalhão, gostando de pilheriar com todos. 

Uma de suas “vítimas” preferidas era Frei Caetano.

O Colégio de Bom Conselho, já com uns quinze anos de fundado funcionava plenamente, e o frade promovia quermesses nas noites de novena e fazia lindos balões coloridos, que enfeitavam o céu de Papacaça, alegrando grandes e pequenos. 

Mas havia sempre moleques cuja alegria maior era furar com pedras os balões do frade. Este pedia garantias ao delegado Gracindo, que com atitude de autoridade afirmava que tomaria as providências necessárias.

Chegada a hora de soltar os balões, o povo aglomerava-se para vê-los subir.

A disputa do frade e do delegado Gracindo

O delegado, protegido pela multidão gritava: — Fura o balão moleque! Não havia um só que não fosse atingido pelas pedradas.

O frade desconfiou e sorrateiramente aproximou-se do delegado a tempo de ouvi-lo gritar — Fura o balão moleque! Decepcionado, frei Caetano exclamou no seu sotaque arrastado:

__ Ê capiton, tu non é delegado, non é nada, manda moleque furar balon! Ao que o delegado retrucava:

— Não Padre Mestre eu estou gritando — não fura o balão moleque! E o frade repetia:

— Ê capiton, tu non vale nada!

Quando seu irmão Augusto sabia dessas coisas chamava-lhe a atenção, mas ele nem ligava, continuando a fazer outras.

Morreu muito cedo o delegado Gracindo, aos quarenta anos, deixando viúva D. Mariquinha Maria, irmã de Galeana, esposa do Cel. Augusto. Eram dois irmãos casados com duas irmãs.

Dominou o coronel Augusto a política local cerca de 45 a 50 anos, somente interrompidos com a vitória nas eleições em 1889, de Lourenço Ipiranga, apoiado peles Tenório-Cavalcante, que subiram ao poder na queda do Gabinete conservador do Conselheiro João Alfredo.

Com o advento da República, o Cel. Augusto domina novamente a situação, com plenos poderes conferidos pelo governador de Pernambuco,

Barbosa Lima, dirigindo os destinos de Bom Conselho, ainda por mais de uma década.

do livro Memórias de Carlos Artur Vilela

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