21 de maio de 2020

ANÁLISE E CARACTERIZAÇÃO DO RIACHO SALGADINHO E DA CACHOEIRA DO "POÇO ESCURO" (por Fábio Santos)

José Fábio Santos - Geógrafo

ANÁLISE E CARACTERIZAÇÃO DO RIACHO SALGADINHO E DA CACHOEIRA DO "POÇO ESCURO" NO MUNICÍPIO DE BOM CONSELHO-PE
José Fabio dos Santos Bezerra

RESUMO:
O presente artigo tem como objetivo analisar à dinâmica da paisagem do Riacho Salgadinho e da Cachoeira Poço Escuro do município de Bom Conselho, Estado de Pernambuco. O texto visa apresentar um breve relatório da visita de campo realizada no dia 17\05\2020 ao referido espaço, objeto deste trabalho. Como metodologia foi aplicada abordagem sistêmica, visita de campo e uso de imagem de Satélite do programa Google Earth.
PALAVRAS CHAVES: PAISAGEM. RIACHO. BOM CONSELHO. VISITA DE CAMPO.
INTRODUÇÃO:
        A Ciência Geográfica tem papel importante no auxílio das tomadas de decisões e na administração do espaço, pois o conhecimento da relação entre o homem e o meio é estratégico. Realizar caracterizações e análises de poções do espaço é importante para identificar as dinâmicas sistêmicas, as potencialidades ou as problemáticas do mesmo.  A Geografia por meio de suas categorias conceituais de análise: Espaço Geográfico, Região, Paisagem, Lugar e Território contribuem para se conhecer as especificidades de áreas da superfície da Terra.
      O artigo tem como objetivo geral analisar a dinâmica da paisagem do Riacho Salgadinho e da Cachoeira poço escuro no município de Bom Conselho. Para atender este objetivo, foi necessário traçar objetivos específicos operacionais: Analisar imagem de satélites do Google Earth, Realizar interpretações de fotografias e revisar a literatura para embasamento teórico.
          O presente trabalho se justifica pela importância de divulgar o conhecimento acerca do Riacho "Salgadinho" e da "Cachoeira do Poço Escuro", pela priori se pode considerar que muitos moradores da cidade de Bom Conselho não tem ciência do potencial paisagístico do seu próprio município. Portanto, a divulgação de breves análises ambiental se faz necessária para trazer a público esse conhecimento e facilitar cogitação da possibilidade de eleger o objeto deste texto como um potencial ecoturístico do município.

METODOLOGIA:
I BREVE CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO 
        Formado por sede (ver figura 1) e Distritos: Barra do Brejo, Cachoeira do Pinto, Rainha Isabel, Caldeirões dos Guedes, Igreja Nova, Lagoa de São José e Logradouro dos Leões. As principais atividades econômicas são agropecuária, comércio, fábricas de laticínios e serviços.
     O município de Bom Conselho está localizado no Agreste Meridional do Estado de Pernambuco, na microrregião de Garanhuns, entre as coordenadas geográficas:  09 graus 10' 11' de Latitude sul e 36 graus 40'47' de Longitude oeste. Bom Conselho está inserido na região do Planalto da Borborema de acordo com Corrêa et al (2010). 

O conjunto de serras, morros e elevações que constitui a Borborema teve origem epirogênica e está ligada ao desmantelamento de Gondwana e ao magmatismo atuante. (CORRÊA et al 2010). Segundo O Ministério de Minas e Energia (2005) o relevo de Bom Conselho é movimentado, com vales profundos e estreitos, os solos possui fertilidade variada, ao sul próximo a Alagoas está inserida a unidade geoambiental Depressão Sertaneja. (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. 2005). Em outras palavras, na região sul do município é possível perceber a transição entre a Borborema e a depressão sertaneja especialmente se olhar na direção do município do Estrela de Alagoas no Estado vizinho Alagoas se pode constatar na paisagem essa descontinuidade do relevo.
       
As rochas que formam a estrutura do Planalto da Borborema são rochas ígnea graníticas e metamórficas (rochas cristalinas), segundo  Barros et al (2018) essas rochas foram formadas no período Pré-Cambriano. Portanto, a formação rochosa é bastante antiga e o Planalto da Borborema é bastante erodido pelos agentes de Intemperismo (umidade, chuva, calor, vento, ação de organismos e ação humana).

Quanto aos limites territoriais do município: ao norte faz fronteira com o município de Saloá, Terezinha; a leste com o município de Lagoa do Ouro; ao sul com o Estado de Alagoas e a oeste com o município de Iati. O raio de influência do município de Bom Conselho interage com os municípios vizinhos através das atividades socioeconômicas (Bom Conselho faz parte da Bacia leiteira do Agreste Meridional, há fluxo de pessoas do município para outros municípios do entorno e vice versa).  No Agreste Meridional, o principal centro de Influência é o município de Garanhuns por atrair maior fluxo.

Quanto ao clima e vegetação o município por se localizar em uma região de transição, apresenta características de caatinga Hiperxerófila, (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA 2005). Principalmente na região oeste, noroeste e sudoeste do município e trechos de vegetação com característica da Zona da Mata na parte leste e sudeste do município.
     O clima é de transição (SubÚmido) e apresenta características semiáridas, (região da sede e oeste do município) ora com característica de zona da mata (região leste e sudeste do município), porém sem apresentar extremos dessas zonas. Quanto ao período chuvoso é entre o outono-inverno. Bom Conselho recebe influência dos ventos alísios de sudeste que transporta umidade principalmente nos meses de inverno, os sistemas meteorológicos que modulam as chuvas são Cavados Atmosféricos, Distúrbio Ondulatório de Leste (DOL) e Sistemas Frontais (SF)  entre os meses de Maio e Julho principalmente. Em alguns anos podem ocorrer eventuais trovoadas associadas  a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT),  Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN) e Cavados de Altos Níveis entre os meses de Janeiro e Março.  O período seco do município ocorre entre os meses de Setembro e Janeiro, período em que a Alta Subtropical do Atlântico Sul: ASAS (sistema de Alta Pressão Atmosférica) atua mais próximo do continente, influenciando na subsidência de ar seco no setor leste do Nordeste.
     A hidrografia é formada por riacho salgadinho, rio Papacacinha, Paraíba do meio, Caborge, bálsamo, Açude da nação, Barragem do Bálsamo e outros corpos d’ água.  Os encontros dos rios Papacacinha, Caborge e Paraíba acontecem no município de Bom Conselho (SANTOS 2018). Em outras palavras, o ponto onde os rios Papacacinha e Caborge deságua no Paraíba é no Território bom-conselhense.


FIGURA 1: Sede do Município de Bom Conselho vista através de imagens de satélite. Fonte: Google Earth.

II: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
           Para que este artigo fosse desenvolvido, foi realizada uma visita de campo no dia 17/05/2020 onde se pode verificar empiricamente a configuração da paisagem do vale do Riacho Salgadinho e da Cachoeira do Poço Escuro. Foi feito registro visual por meio de fotografias.
        Foi utiliza imagens de Satélite do Google Earth para analisar a Geomorfologia do vale do salgadinho, por meio das imagens de satélite foi possível observar a ação antrópica na vegetação do entorno (é visível áreas de solo exposto).
      Foi feito uma pequena revisão de literatura para embasamento teórico. Os autores consultados foram Machado e Torres (2012), Santos (2012), Limberger (2006), Maciel e Lima (2011). A abordagem sistêmica  é aplicada a Ciência Geográfica: Quando na Geografia trabalha-se com o estudo dos sistemas, e como são compostos por vários elementos, então se pode dizer que se trabalha com sistemas dinâmicos, que podem ser simples ou complexos. (LIMBERGER 2006). 

O Planeta Terra é um Sistema onde a Litosfera (crosta terrestre\geologia e geomorfologia), hidrosfera (esfera da água: riachos, lagos, rios, mares\ hidrogeografia), biosfera (Ecossistema, fauna e flora; distribuição de seres vivos\ biogeografia), atmosfera (Massas, de ar, vento, temperatura, umidade, chuva\climatologia) estão sempre em interação e operam para configuração da paisagem. Nessa ótica, tomamos o riacho do Salgadinho e a Cachoeira do poço escuro não como um lugar isolado, mas como parte de um sistema ambiental onde flui matéria e energia. Um processo dinâmico e ativo onde atua atmosfera, relevo, água, vegetação, o ser humano e rochas. 

RESULTADOS:

       Conforme Santos (2020) a Cachoeira do poço escuro é distante 06 km do centro de Bom Conselho, é um atrativo turístico escondido no leito do riacho do Salgadinho. Trata de uma queda d’água com mais de 30 metros de altura de um paredão rochoso granítico com desgaste promovido pelo intemperismo físico e químico (SANTOS 2020). 


O intemperismo é o processo natural provocado por agentes como temperatura, vento, umidade, que atua na rocha provocando o seu desgaste.  O intemperismo pode ser físico quando ocorre a quebra ou fratura da rocha por choque, temperatura ou atrito. Ou pode ser químico, quando o gás carbônico atmosférico que reage nas águas das chuvas forma ácido carbônico  que possua vez em contado com a rocha provoca a desagregação de seus minerais ou quando a água interage com minerais como o feldspato provocando uma reação química que desagregue este mineral. É graças ao intemperismo da rocha que solos são formados.

     No vale do salgadinho e na Cachoeira do poço escuro foi possível encontrar rochas fraturadas pelo intemperismo físico (ver figura 6) e indícios de intemperismo químico.  Que contribuiu para formação de solos e configuração paisagística do lugar. Santos (2020) reforça a potencial importância turística do lugar, pois o mesmo tem atrativos naturais que pode ser de relevância para o desenvolvimento do Ecoturismo.

       O Ecoturismo de acordo com as ideias de  Santos (2011) é um seguimento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e promove uma consciência ambiental (SANTOS 2011). Ou seja, é uma forma de turismo mas que se dá de modo sustentável e promove a consciência ambiental.


       O riacho Salgadinho que nasce no sítio serra grande e faz parte de um sistema de drenagem, Machado e Torres (2012) ao citar Rocha e Kurtz (2001) conceitua uma bacia hidrográfica ou bacia de drenagem como: “área delimitada por um divisor de água que drena as águas das chuvas por ravinas e canais tributários para um curso principal que por sua vez converge para uma única saída e deságua diretamente para o mar ou grande lagoa” (ROCHA e KURTZ 2012 Apud MACHADO e TORRES 2012).  

Ainda mediante um mapa apresentado na obra de Machado e Torre (2012) pode concluir que o conjunto de Bacias Hidrográficas de boa parte do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, parte do Agreste e Zona da Mata Pernambucana e Zona da Mata Alagoana faz parte do conjunto de “Bacias do Atlântico Nordeste Oriental”.  (MACHADO e TORRES 2012).

      Nas figuras 2, 3 e 4 são imagens de satélites onde é possível ver a cobertura vegetal em pontos relativamente isolados próximo aos trechos do riacho salgadinho onde se localiza a cachoeira do poço escuro, inclusive, parte dessa vegetação foi constatada na visita de campo. Por outro lado, se percebe que há muito solo exposto mostrado nas imagens, isso é indicador de áreas usadas para agricultura ou pecuária, os solos expostos mostram locais de degradação ambiental e ação humana.  Outra observação interessante, é a nitidez da transição entre a Borborema e a depressão sertaneja e é possível observar o vale do salgadinho nas imagens.

Figura 2: Trecho do riacho salgadinho próximo a cacheira poço escuro. (imagem de satélite) Fonte: Google Earth.

Figura 3: Imagem de satélite do vale do salgadinho. Entre os traços vermelho mostra depressão sertaneja em direção ao município do Estado vizinho Estrela de Alagoas. Fonte: Google Earth.
Figura 4: Descontinuidade entre o Planalto da Borborema e a depressão do vale vista por imagens de satélite.  Fonte: Google Earth.
 Nas figuras 5, 6 e 7 observa-se a paisagem do vale do salgadinho, rocha visivelmente fraturada e a vista da cachoeira do poço escuro, com uma ótica sistêmica pode se considerar que o que aparece nessas imagens constitui elementos paisagísticos pois é capitado pelos nos órgãos do sentido. Para que essa paisagem se apresente a nossa consciência por meio da percepção foi necessário a interação de vários fatores como relevo, vegetação, clima e agentes como o que provocou a fratura na rocha (intemperismo físico provocado por temperatura e energia cinética das correntezas turbulenta da água do riacho).  Maciel e Lima (2011) faz em seu trabalho um resgate da construção do conceito de paisagem e analisa esse conceito em diversos contextos como o da perspectiva sistêmica, na escola francesa e em vários olhares. Objetivamente, no contexto desse trabalho, paisagem é tudo ao nosso entorno que é abraçado por nossa percepção e que é extremamente dinâmico.
Figura 5: Paisagem do Vale do Salgadinho. Fonte: Acervo do autor.

Figura 6 Rocha Fraturada. Fonte: Acervo do autor.
Figura 7: Cachoeira do Poço Escuro. Fonte: Cláudio André.

        Na figura 8 é apresentado um mapa de solo do município de Bom Conselho, é destaque a formação de 3 tipos de solo:  Planossolos, regossolos e solos podzólicos.  A região que compreende o vale do riacho salgadinho está inserida na área entre solos regossolos e planssolos.  Os regossolos são comuns na região da sede do município.
FIGURA 8: mapas de solo do município de Bom Conselho. Fonte: Dados cartográficos do laboratório de Geoprocessamento da Universidade de Pernambuco/ mapa desenvolvido pelo autor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
          O presente texto abordou de forma breve sobre o riacho salgadinho e sobre a cachoeira do poço escuro. Nesse artigo foi elucidado sobre o conceito de paisagem, foi feito um apontamento teórico sobre intemperismo, interação de vários elementos que de modo sistêmico configura  a paisagem de um lugar.
         Foi analisado imagens de satélites do Google Earth com intuito de observar o relevo e a distribuição vegetal. Foi usado dados fotográficos da visita de campo. E foi apresentado um mapa de solo que divulga o conhecimento dos três tipos de solo mais predominante do município.
       O riacho do salgadinho é um sistema que modela a paisagem: em interação com o clima, relevo e vegetação produz modificações no espaço. As águas carregam sedimentos das partes mais altas e depositam nas partes mais baixas, esse processo é contínuo enquanto as águas correrem.
       É importante indicar pesquisas futuras para o município de Bom Conselho, pois há muitos potencias objetos de pesquisa neste território esperando para ser estudado e desenvolvido. É importante refletir sobre a possibilidade de no futuro as potencialidades turística  e ecoturística de Bom Conselho serem desenvolvidas de modo sustentável. Por último, é importante uma consciência ambiental: o ser humano impacta o ambiente por meio de suas ações, portanto, sempre que tiver lidando com um patrimônio natural e cultural, é importante se pensar na preservação deste patrimônio: não jogar lixo no leito do riacho, não degradar a mata ciliar e pensar usar o espaço que é herança da humanidade de modo equilibrado para o bem da natureza e do próprio ser humano.
   
REFERÊNCIAS:

BARROS, et al.  A Região Natural Planalto da Borborema no Semiárido do Rio Grande do Norte. REVISTA CONADIS. Editora realize 2018.

CORRÊA, A, C, B. MEGAGEOMORFOLOGIA  E MORFOESTRUTURA DO PLANALTO DA BORBOREMA. Revista do Instituto Geológico. São Paulo 2010.

LIMBERGER, L. ABORDAGEM SISTÊMICA E COMPLEXIDADE NA GEOGRAFIA. Geografia - v. 15, n. 2, jul./dez. 2006. Disponível em http://www.uel.br/revistas/geografia.
MACIEL, A, B, C. LIMA, Z, M,C. O conceito de paisagem: diversidade de olhares. Sociedade e Território, Natal, v. 23, nº 2, p. 159 - 177, jul./dez. 2011.

MACHADO P, J, O. TORRES, F, T, P.  INTRODUÇÃO À HIDROGEOGRAFIA. (Texto básico de Geografia) Cengage Learning. São Paulo 2012.

MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. DIAGNÓSTICO DO MUNICÍPIO DE BOM CONSELHO.  Outubro de 2005.

SANTOS. C, A. O ENCONTRO DOS RIOS PAPACACINHA, CABORGE E PARAÍBA DO MEIO ACONTECE EM BOM CONSELHO. 2018.  Disponível em: <https://www.claudioandreopoeta.com.br/2018/09/o-encontro-dos-rios-papacacinha-caborge.html >CONHEÇA UM POUCO DO TRECHO DE COMO CHEGAR NA CACHOEIRA DO POÇO ESCURO. 2020. Disponível em: < https://poetaviagenseaventura.com/2020/05/18/conheca-um-pouco-do-trecho-de-como-chegar-na-cachoeira-do-poco-escuro/ >

SANTOS, R, R. ECOTURISMO UMA FORMA SUSTENTÁVEL DE DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO AMBIENTAL. Universidade Candido Mendes. Niterói RJ. 2011.

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