VERSOS ÍNTIMOS DE AUGUSTO DOS ANJOS É UM AUTORRETRATO DA IMAGINAÇÃO FÉRTIL DO POETA

Da janela vejo melhor...

Finalizo o expediente do dia com o poema de  Augusto dos Anjos, intitulado de Versos Íntimos.

*Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos foi um poeta brasileiro, identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano. Todavia, muitos críticos, como o poeta Ferreira Gullar, preferem identificá-lo como pré-modernista, pois encontramos características nitidamente expressionistas em seus poemas.

Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável 
Enterro de sua última quimera. 
Somente a Ingratidão – esta pantera – 
Foi tua companheira inseparável! 
Acostuma-te à lama que te espera! 
O homem, que, nesta terra miserável, 
Mora, entre feras, sente inevitável 
Necessidade de também ser fera.  
Toma um fósforo. Acende teu cigarro! 
O beijo, amigo, é a véspera do escarro, 
A mão que afaga é a mesma que apedreja.  
Se alguém causa inda pena a tua chaga, 
Apedreja essa mão vil que te afaga, 
Escarra nessa boca que te beija!