Conta-se a história que o senhor João dos Santos Viana, mais conhecido por João Neco, era um agricultor que viveu tempos atrás no sertão do Pajeú e sofria com a falta de água no seu sítio, na zona rural de Triunfo (PE), no início do século XX. Para amenizar o problema, ele mesmo cavou entre 1932 e 1935, um poço com cerca de 25 metros de profundidade para poder se abastecer.
Passado muito tempo, ele considerou inconveniente a retirada da água pela abertura do poço, especialmente para crianças, idosos e mulheres com os quais tinha o desejo de compartilhar o fruto do seu trabalho. Daí, o senhor João Neco colocou na prática outra ideia, que era fazer um túnel de acesso até a vertente da cacimba.
Desta vez construiu um túnel transversal ao poço, em direção à nascente do mesmo, com o intuito de facilitar a retirada da água. Este túnel, com cerca de 30 metros de comprimento, 2 metros de altura e 1,2 metros de largura, construído apenas com terra batida e pedras da região é, juntamente com o poço propriamente dito, uma atração em si e recebe o nome conjunto de Cacimba de João Neco.
No local onde os carros ficam estacionados fica também a casa onde vivem atualmente Lourival dos Santos - filho de João Neco - e a sua esposa. Na casa simples onde eles vivem estão ferramentas e outros objetos usados por João Neco para a construção do poço e do túnel.
Essa é visão que você tem de dentro para fora da Cacimba de João Neco, quando você já está próximo onde está a vertente. Barro vermelho e pedra, foi o que se encontrou durante a escavação da cacimba.
A pergunta que não quer calar é: Como um homem do sertão, que não sabia nem ler, nem escrever conseguiu fazer uma engenharia dessa?
Os visitantes percorrem cerca de 30 metros de túnel à dentro até chegar na poça d'água que nunca seca. Uma corrente enfincada na rocha serve de cabo de sustentação para quem deseja ir até o final do túnel da cacimba.
A Cacimba de João Neco é considerada uma obra arrojada para os padrões da época de 1930, construída por um "autodidata sem leitura" preocupado com o bem-estar da comunidade onde vivia. A Cacimba é hoje, por tudo isso, um destino turístico que vale a pena conhecer, que fica a 5 quilômetros do centro de Triunfo.
Chegar a esse ponto da Cacimba é desafiador, porém, muito valioso o tempo que por ali demora a passar. A ventilação nesse ponto do túnel que da acesso a cacimba não é sufocante. Pingos d'água caem sobre nós enquanto descemos os degraus do túnel. Há trechos que ficam bem mais molhado e escorregadio, mas não tira o encorajamento do aventureiro.
O colorido das rochas é algo fascinante. Entre a construção do poço de 14 metros de profundidade e os 30 metros de comprimento do túnel, o senhor João Neco, sem leitura nenhuma, levou cerca de 03 anos para terminar essa obra que já beira seus 90 anos de existência. Interessante, que tudo está com sua originalidade.
Estive sendo acompanhado pelos meus amigos comunicadores do sertão do Pajeú, Cosmo Queiroz e Carlinhos do Alto. Eles moram há 18 Km de distância, foram conhecer uma obra que atravessa o tempo com uma verdadeira história de um sertanejo desbravador, que não sabia ler, mas, era partidor de terra, rezador, curador, agricultor e idealista. O senhor João Neco morreu aos 89 anos de idade.
Estive juntamente com o amigo radialista, Carlinhos, papeando com o senhor Lourival, que tem o estilo do saudoso cearense, seu Lunga. Pergunta besta, a resposta está na ponta da língua de Lourival, um dos 10 filhos do senhor João Nego. Numa casa simples, num sítio rodeador de árvores frondosas, vive seu Lourival e a esposa que fazem questão de mostrar onde estão ferramentas e outros objetos usados por João Neco para a construção do poço e do túnel.
Para quem deseja conhecer, basta botar o pé na estrada e seguir destino para cidade de Triunfo, sertão do Pajeú do estado de Pernambuco.
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