A inspiração dos poetas não aparecem por acaso, eis um bom motivo dessa razão é ler os poemas de João Cabral de Melo Neto, que fala justamente do comportamento de certas pessoas quando veem um andor de santo. O poema intitulado ANDOR DO SANTO diz mais ou menos assim:
"Se é procissão que me fazem
mudou muito a liturgia:
Não vejo andor para o santo,
não há nem um santo a vista.
Vejo muita gente armada,
vejo só uma confraria.
E tudo é muito formal
para ser uma romaria.
Talvez seja só um entrerro
que o morto caminharia..."
Um pouco mais na frente, completa o nobre poeta:
"Dessa gente sei dizer
quem Manuel e quem Maria
quem boticário ou caixeiro
e sua mesma freguesia".
Pois, bem, diplomata de carreira, João Cabral de Melo Neto ocupa posição isolada no panorama histórico da poesia brasileira, pela sua personalidade ímpar, sua linguagem enxuta, as imagens predominantemente visuais, o desenho dos poemas, que parecem traçados a régua e compasso. A crítica aponta-o como o ponto máximo da poesia brasileira do século XX, ao lado de Carlos Drummond de Andrade.
Em trocados e miúdos, esse poeta escreveu uma realidade que ainda hoje enxergamos de perto, gente metida a piedade, mas, com o coração cheio de ódio, ganância e vingança, se escondendo pegado no andor de um santo.
Já pensou se naquela hora o santo resolve pular do andor?
Aí vai um recado para aqueles que deixam de procurar o que fazer para falar do Poeta. Estudem, leiam e procurem entender o que os poetas escrevem. Isso é sabedoria!
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